São episódios como este que muitas vezes levam as pessoas ao medo e ao desespero. Acabam até, em algumas situações, por dar o cão com medo que ele morda o seu filho.
Quem teve a culpa? O cão, a criança, os pais? Não quero com isto atribuir culpas nem culpados. A minha intenção é evitar episódios drásticos e graves.
Vivemos numa sociedade em que, na maior parte das vezes, quem tem cão não tem informação suficiente sobre as mais variadas situações que podem vir a acontecer, e este assunto não é exceção.
A maior parte dos incidentes que acontecem com cães são dentro da nossa própria casa. Não porque os cães são traiçoeiros e nossos inimigos. De todo. O que é fato é que por vezes os adultos não têm as informações necessárias para explicar aos filhos o que se deve e não se deve fazer na presença de um cão. Com isto, e mais o fato de confiarem no seu cão, negligenciam e banalizam alguns aspetos importantíssimos. Mas aqui não se trata de uma questão meramente de confiança. A questão aqui tem a ver com a educação parte a parte. Eu aconselho sempre as pessoas a explicarem aos seus filhos que os cães são seres vivos e que temos de o saber respeitar e entender. As crianças têm reações mais bruscas e imprevisíveis e nem sempre se comportam de uma forma que deixa um cão confortável.
É importante deixar-se de lado o mito de que os cães não se sentem ameaçados por uma criança. A conversa não é por aí! O que é preciso fazer é explicar a uma criança as coisas que não deve fazer. Aqui estão alguns exemplos:
Não deve saltar para cima de um cão;
Puxar-lhe as orelhas, nem a cauda.
Mexer quando está a comer ou com um brinquedo;
Não correr nem gritar na presença de um cão;
Não avançar em surpresa quando um cão está a dormir;
Não apertar;
Não enfrentar com o olhar;
Não devem mexer em cães que não conhecem, que estejam presos;
Eu educo todos os dias o meu cão, o Caju, e mesmo assim não deixo os meus filhos com ele sem a minha supervisão. Explico regularmente e sempre que necessário aos meus filhos o que podem ou não fazer. Mais uma vez não tem a ver com falta de confiança no meu cão. Tem a ver com responsabilidade e sensatez. As crianças são de fato imprevisíveis e uma situação desconfortável para um cão pode acabar numa situação verdadeiramente trágica.
Lembro-me de uma situação específica sobre o rosnar que uma vez um aluno me perguntou relativamente ao seu filho. E isto é comum. O que se passou foi que o cão estava a roer um osso daqueles de pele de búfalo e o filho aproximou-se e tentou tirar-lho. O cão rosnou! É natural que os cães façam guarda de recursos e que rosnem. Rosnar não é mau, o que é mau é morder sem avisar. O rosnar é um aviso de que algo está mal e que não está confortável com aquela situação. Cão que não rosne numa situação de desconforto como esta, provavelmente morde. Vamos é tentar perceber porque rosnou e como podemos retirar algo da posse de um cão. É importante que o nosso cão nos deixe mexer nos seus brinquedos, na sua comida e noutra coisa qualquer. Mas não vale a pena tentarmos isso com os nossos filhos se não temos a capacidade de controlo absoluto.
O que as pessoas fazem, quase sempre quando um cão rosna nestas situações, como a do osso com a criança, é castigarem o cão com uma palmada ou com um puxão ou simplesmente isolá-lo durante muito tempo longe da família. Não se deve fazer isso. Não se deve castigar um cão numa circunstância como esta. Primeiro porque se castigar o rosnar e não souber resolver as coisas, para a próxima pode não rosnar como aviso e morder de imediato. E depois, muito importante, quando castigamos um cão nesta situação, ele pode não associar o castigo àquilo que pretende. O cão pode associar o castigo à criança e poderá estar a causar uma relação bastante tênue e ficar a associar castigo e dor à criança.
Peça ajuda nestes casos a um profissional para que possa tomar as decisões mais acertadas e vigie sempre os momentos entre o seu cão e o seu filho.
Eu acredito piamente que educar os nossos filhos com a convivência e o amor de um cão na nossa família é maravilhoso e que traz muitos benefícios no caráter das crianças. O amor verdadeiro e a dedicação, o respeito e a partilha são máximas que se adquirem numa relação com um cão. Mas não podemos esquecer que os cães não são bonecos e que como todos os seres vivos é fundamental existirem regras de convivência.
Por outro lado, é muito importante que o seu cão esteja habituado desde pequeno a ser manuseado por crianças e pessoas de qualquer género ou idade.
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